quarta-feira, 19 de março de 2014

Conto mais um conto



Uma coleção de cartas, poemas e flores secas dentro de uma caixa velha, com uma fita de cetim, outrora branca, mas hoje amarelada, a envolvendo. Ela pegou as cartas nas mãos, cheirou e guardou junto ao peito durante alguns minutos, suspirando. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

Então foi isso que sobrou? Então quer dizer que anos juntos, muitos momentos especiais, muito amor e afeto evaporaram assim, dessa maneira tão abrupta que a única coisa concreta que sobrou foram as cartas guardadas com tanto carinho? Fora isso só as lembranças. 

Como não percebi o que era tão óbvio? Por que me deixei enganar dessa maneira? Eu sabia que o amor tinha acabado, mas preferi não enxergar. Só não imaginava que iria sofrer tanto. Um dia ele simplesmente se foi, sem ao menos dar explicações.

O homem que tanto amei já não estava mais comigo, ele era outro, um estranho. Sua energia e vitalidade foram sugadas e eu simplesmente deixei que isso acontecesse. Talvez eu mesma não já não fosse a mulher com quem ele se casou. Sua amada nunca deixaria que as coisas tomassem esse rumo.

Pôs as cartas ao lado da caixa, não tinha forças para lê-las. Pegou as flores, eram rosas, margaridas e lavanda, as colocando em cima das cartas, ainda tinham cheiro. O cheiro das tardes que passaram juntos caminhando ao sol. Por último, embrulhado cuidadosamente em um lenço bordado, estava um parzinho de sapatos tricotados. Nunca foram usados.



Um comentário: