sábado, 4 de outubro de 2014

Escrever é preciso.

É muito difícil lutar contra meus próprios impulsos. Algo escuro que está no fundo da alma, mas que às vezes vem para a superfície com toda força. Emerge formando uma onda gigante, forte, que forma uma corrente. Nado contra a correnteza. Estou com aquela sensação de que algo ruim está por vir. A saliva espessa tem um gosto amargo na minha boca. Lágrimas que não querem verter inundam minha garganta. Tento engolir em vão. Novamente estou escrevendo porque preciso. É certo que gosto de escrever, porém nessa situação as palavras me servem como válvula de escape. Talvez assim consiga me desvencilhar um pouco da carga pesada que eu mesma insisto em colocar sobre as costas.


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sobre ser futura médica, primeiro contato com um paciente

A primeira vez que me vi diante de um paciente, no quarto período, estava junto de uns vinte e poucos alunos dentro de um anfiteatro. Ele estava lá na frente, sentado tranquilamente na cadeira enquanto meus colegas o bombardeavam com perguntas e eu, de longe, estava petrificada sentada no fundo da sala. "É uma pessoa de verdade. Estou lidando com uma pessoa!". Sei que parece ridículo esse tipo de pensamento passar pela cabeça de um estudante de medicina, afinal, optamos por lidar diretamente com gente! No entanto eu estava aterrorizada diante dessa situação. 

Timidamente fui me acostumando com a situação, demorei muito para colher uma história sozinha e, confesso que só fui fazer isso no quinto período, meio ano depois! Loucura, não? Não é não. Lidar com o paciente não é algo trivial. Cada pessoa é única e nós nunca saberemos o que esperar da pessoa que está na sua frente quando falarmos "Bom dia, em que posso ajudar?" ou qualquer outra pergunta similar. Tudo é incerto! Isso não se ensina em livros, você vai 'pegando o jeito' com a prática. Isso me dava medo, muito.

Demorou cerca de dois períodos para que eu parasse de ficar cheia de placas vermelhas no rosto e no pescoço enquanto colhia uma história e examinava um paciente. E mais um período para que eu conseguisse sentar em uma mesa e atender alguém sozinha. Na verdade eu só fui fazer isso quando uma professora minha, muito querida, virou para mim, com uma mãe e seu bebê de 30 dias ao seu lado, e disse "Atende, que esse é pra você!". 

A minha resposta, quase como um pensamento exteriorizado, foi automaticamente essa "O que que eu faço primeiro?". Por incrível que pareça, apesar do branco inicial, sentei com a mãe e comecei a colher a história e, quando vi, já estava examinando com a professora e dando hipóteses diagnósticas que, para minha surpresa, estavam corretas! Terminei a consulta me sentindo mais leve.

E assim foi, assim será sempre. A vida é feita de superações, quebras de barreiras. Eu posso ser mais lenta, demoro para chegar onde quero, mas chego. Tenho que passar a enxergar o fato de que sempre me supero, sempre vou me surpreender com as minhas próprias capacidades. Sempre vou vencer distâncias.

domingo, 17 de agosto de 2014

Sobre tomar coragem e compartilhar algumas coisas. Sobre ansiedade,sobre depressão.


Com os últimos acontecimentos tenho visto vários depoimentos sobre depressão. Muitos assumindo a doença, compartilhando como venceram ou como convivem com ela. O engraçado é que vêm de pessoas que você nunca esperava, não é? Pois bem, é assim mesmo, digo, a doença, quem tem muitas vezes esconde. Por quê? Talvez por medo de ouvir que é frescura, que é falta do que fazer, que "mas você tem uma vida perfeita"! Infelizmente foi necessário que uma notícia como o suicídio do Robin Williams abrisse os olhos das pessoas para a gravidade da doença, para que muitos passassem a "entender" a doença como doença!

Talvez não seja novidade para alguns, mas eu também tenho depressão. Na verdade transtorno misto de depressão e ansiedade. Ouçam bem, eu disse que tenho depressão, não que a depressão me tem! Por um tempo ela governou, por um tempo fiquei presa nesse casulo. Agora estou bem, há alguns meses já sem nenhuma recaída. Sim, tomo remédios, sim, faço terapia! Sim, sou humana! Sim, estou zelando pela minha saúde.

Aí vai um texto que escrevi no início do ano, pensando em postar aqui, mas me faltou coragem para isso. Na época eu não estava tão bem quando estou agora. Andei conversando sobre depressão com muita gente e descobri que compartilhar ajuda. Eu me sentia anormal por ter "desabado" tão perto do final da faculdade, mas descobri que tenho muitos colegas que também "surtaram" (cada um de sua maneira) durante esses últimos períodos. Não tenho que ter vergonha de mim mesma por isso. 

Às vezes tenho a nítida impressão de que o mundo gira e as coisas seguem seu curso e eu fico parada, para trás. Agindo apenas como espectadora, passivamente, olhando minha vida acontecer. Tudo é tão rápido e desorganizado e eu não tenho tempo de respirar e pensar no que acabou de ocorrer. Não. O mundo não vai parar para mim e quanto mais eu ficar parada, pior. Pior vai ser a corrida atrás do tempo perdido.
Incontáveis foram as minhas desculpas para me esquivar do ato de vivenciar minhas experiências. Por que fujo assim? Por medo, medo de não estar vivendo certo. Afinal, o que mesmo é viver de maneira correta? Existe isso, existe uma fórmula? Não, provavelmente eu que inventei isso também. O medo de errar o viver, tão forte e intenso que me paralisou, fez com que eu me esquivasse até das coisas mais simples do cotidiano, fez com que eu buscasse, no conforto do sono, uma rota de fuga.
Essa esquiva vira culpa, essa culpa potencializa o medo, que me paralisa mais e esse ciclo é interminável. Cada vez mais faço menos coisas, cada vez mais sinto menos vontade de seguir em frente, menor é a vontade de viver. O caminho, que já era longo, ficou maior ainda quando eu parei. Eu queria apertar um botão de congelar a vida.
Era assim que eu me sentia quando, no meio do ano de 2013, nas vésperas do meu aniversário, caí em depressão. Na verdade eu já estava nesse estado melancólico bem antes, provavelmente há alguns anos em processo de negação, não deixando transparecer nada. Foi o pior sentimento que tive em toda a minha curta existência. Agora estou me recuperando, ganhando forças. A doença continua e, às vezes eu ainda afundo, mas sempre volto à superfície. 
Nado devagar, de acordo com as minhas limitações. Aceitar as limitações é um processo novo para mim e um tanto quanto complicado. Assim como comemorar as pequenas vitórias.  Aprendi que, na realidade, toda vitória é uma vitória e nenhuma delas tem nada de pequena! Todas são exemplos diários e argumentos para mim mesma de que eu sou capaz de quebrar barreiras, de avançar e de viver. 
Ainda acredito que há uma maneira certa ou errada, não de se viver,  mas sim quanto às escolhas que se faz e a relação delas com o modo que se lida com as consequências por elas trazidas. No meu caso o medo era tanto que eu não conseguia mais fazer escolhas e as consequências disso foram desastrosas. No entanto, reconheço que, se isso não tivesse acontecido comigo, provavelmente eu ainda estaria a deriva vendo o barquinho da minha vida passar e alcançar o horizonte sem mim. (Janeiro, 2014)




sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sobre ser futura médica 5


Imaginem a seguinte situação: uma paciente chega encaminhada ao ambulatório de patologia cervical. Ela vem com um resultado de exame preventivo nas mãos,  que tem como resultado "lesão intraepitelial de baixo grau" (LSIL). Diz que foi atendida previamente e informada de que isso não é nada grave, só uma feridinha, mas que se não acompanhar pode virar câncer. Sem mais explicações, levando em consideração toda a conotação da palavra câncer, a paciente conclui que, caso não se faça nada rapidamente, ela vai desenvolver um câncer avançado em pouquíssimo tempo e que pode morrer disso.

Aqui abro parênteses para esclarecer que, para essa moça, esse exame não é indicado e que, levando em consideração a idade dela (22 anos) o resultado não significa nada além de um grande susto e aborrecimento desnecessários. Não se colhe preventivo em mulheres (hígidas) abaixo dos 25 anos, pois mesmo que a prevalência de DNA-HPV seja alta, na grande maioria dos casos o próprio organismo elimina o vírus, ou seja, as lesões regridem sozinhas! No entanto uma vez colhida a citologia, a conduta deve ser expectante uma vez que, nessa faixa etária, foi observada regressão de LSIL em 60% dos casos em um período de 12 meses e de até 90% em três anos.  Para quem quiser mais informações aqui estão as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo de Útero.

Voltando ao caso, no primeiro momento tenho que acalmar a paciente super ansiosa (e com razão para isso!), taquipsíquica e taquilálica a ponto de não me deixar concluir sequer uma frase. Depois disso explico a ela o que deveria ter sido explicado (e que não foi) e o motivo pelo qual não estava indicada a realização do exame, que ela insistia em refazer com um intervalo de 2 meses do anterior.

Minhas tentativas  de argumentar com ela que só havia necessidade de refazer em 1 ano o dito exame foram frustradas e, então, fui salva pela minha professora, que pareceu ouvir os gritos de socorro que eu estava mentalizando. Ela finalmente conseguiu fazer com que a paciente entendesse o que eu estava tentando falar nos últimos 20 minutos. 

Onde eu quero chegar com essa história? Vejam bem, seja interno ou seja médico, somos vistos como figura de autoridade diante de um paciente. Nós tivemos duas pacientes com essa mesma história no mesmo dia.  O que aconteceu hoje poderia ter sido evitado. Até esse momento eu nunca tinha parado para pensar no impacto que as palavras ditas por um médico têm na vida de um paciente. Temos que ser muito bem informados, principalmente em relação às atualizações dentro da área da especialidade que escolhemos. 

Já ouviram a frase "A ignorância é uma benção."? Em alguns casos pode ser uma maldição... Estou pensando agora na quantidade de coisas que não sei, no tamanho da minha própria ignorância. O jeito de amenizar isso é correr atrás, estudar sempre. Haja responsabilidade!

quinta-feira, 24 de julho de 2014

E aí, o que você comeu hoje?

Meus dias estão tão corridos que confesso que minha alimentação foi chutada para bem longe. Sabe aquela história de comer de 3 em 3 horas, de 3 a 5 porções de frutas e beber muita água? Pois é... A única coisa que eu faço é beber muita água.


Normalmente saio de casa apressada, apenas com um café com leite no estômago. Dentro do ônibus abro um belvita, mas acabo comendo um biscoito e esquecendo o resto por ter aberto um livro enquanto comia. Chego no hospital e não paro e, quando me dou conta, já são 12:00h e eu só estou com um biscoito e um café com leite no estômago! Aí saio correndo para almoçar...

Com isso aprendi a andar com comida no jaleco, mas às vezes o movimento é tanto que esqueço da comida e já são 17:30 quando eu reparo que estou com fome. Obviamente que eu engulo o mundo quando chego em casa! 

Essa é a minha vida, às vezes eu pulo o almoço sem querer e, só bem mais tarde, vou entender o motivo de eu estar enjoada ou da dor no meu estômago! A solução da vez foi colocar alarme no celular! Alarme para a comida! 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Daily drops: Sobre ser futura médica...



"Ei você que está parada aí no meio do caminho, dá para se mover? Estou querendo passar!". Eu me sinto exatamente assim quando estou na sala amarela ou na vermelha da emergência. Tenho a nítida impressão de que o acadêmico está sempre bloqueando o caminho, atrapalhando de alguma maneira, então, timidamente, acabo me juntando à residente ou encostando num cantinho. 

Nesse momento tenho uma visão ampla da sala, dos acontecimentos. Os sons parecem se abafar por uns instantes e retornam, aos poucos, um a um enquanto vou absorvendo a quantidade enorme de informações. Nesse momento reparo nos pacientes, vejo nos olhos o medo e o desespero de alguns, a calma de outros. "Ei doutora!". Doutora, eu? É, doutora, se está de jaleco você é doutora! "Doutora, tem remédio para dor?", "Doutora, quando poderei ir embora?", "Você pode tirar minha pressão? Estou tão nervoso, vou operar!". 

Foi em um momento desses que descobri que alguns atos, simples mesmo, como aferir a pressão de um paciente, contar a frequência cardíaca, fazer uma ausculta, ou apenas falar com o paciente, são importantes. São gestos que transmitem confiança, carinho e suporte ao paciente, que se sente visto por alguém e que não é apenas mais um naquele mar de pessoas passando mal.  Um simples pedido de um paciente para "tirar" a pressão dele em meio à bagunça da emergência me fez ter esse insight. Obrigada, pacientes, vocês são os que mais me ensinam. E é aos poucos, fora dos livros, que vou me tornando cada vez mais médica.

sábado, 5 de julho de 2014

Poesia, num momento de agonia...

Escolhas.
Consequências.
Por que sempre escolho errado?
Mesmo sabendo a resposta certa,
Olho para o outro lado,
Dou as costas para o que está na minha frente!
Por que o caminho mais difícil é sempre o escolhido?
Talvez a vida seja simples,
Eu que complico tudo!

-Mariana Carpilovsky (05/07/2014)

terça-feira, 24 de junho de 2014

Fazendo um castelo com cinco ou seis retas por aí...

Quando eu era pequena eu não podia ficar sem lápis e papel por perto. Se alguém quisesse fazer meu dia bastava chegar com lápis de cor ou canetinhas coloridas. Naquela época eu não só realmente pegava uma folha qualquer e desenhava um sol amarelo, mas também muitas outras coisas que íam desde flores a seres mitológicos e criaturas fantásticas. Aquele mundo no papel era meu, eu tinha o controle sobre ele, eu que criava o que estava ali.

Nos últimos anos eu fui sugada pela faculdade. Eu vivia em função dela, respirava medicina, só pensava em medicina e então eu fui me esquecendo. É engraçado isso de que buscamos uma formação que tem como objetivo zelar pela saúde dos outros e , ao mesmo tempo, esquecemos da nossa saúde. Às vezes penso que esquecemos quem somos... 
Não digo saúde física somente. Falo da saúde como um todo. Isso envolve muitas variáveis as quais não vou ficar esmiuçando aqui. Meu objetivo com esse texto é só chamar atenção de que nós temos que ter uma vida por trás da medicina, isso inclui hobbies. E não digo um só hobby. Um só eu tinha, eu lia, aliás, leio muito ainda. No entanto precisamos buscar coisas novas, que nos estimulem, que sirvam como um escape. E eu descobri um agora, aquarela.

Sabe aquela tinta que vinha junto com uma revista e um pincel e que você misturava com água e acabava fazendo uma lambança lamacenta amarronzada com todas as cores quando era pequeno? Então... Essa aí mesmo! E, vou contar uma coisa, muitos acham que aquarela é pra crianças, mas a técnica é muito difícil. Controlar a tinta e a água no papel não é um trabalho tão simples. Não que eu tenha alguma, apenas estou aprendendo, via youtube, a pintar um pouquinho. E, sabem de uma coisa? Estou adorando! Abri um túnel do tempo e voltei ao meu mundo encantado colorido!

Bom, é isso, essa sou eu tirando a poeira do blog.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sobre novos rumos e caminhos

Um dia acordei e foi como se um vento tivesse passado por mim e levantado a poeira toda, levado tudo para bem longe. Tudo o que era já não é mais, agora o que não era é. Uma sensação de estranhamento invadiu minha mente, fiquei um tempo ainda deitada, paralisada.

Acordar em um mundo que não é o seu é difícil. Ser lançada para fora da sua zona de conforto dá medo. Primeiro vem a ansiedade atrelada à mudança ocorrida, depois vem o momento em que estou, em que me acostumo à nova realidade. É como se eu tivesse passado um tempo grande em um lugar escuro e esteja vendo a luz novamente. Tem que abrir os olhos devagar para não doer. Um passo de cada vez.

Passo a passo aprendo a lidar com o novo, que invade minhas veias, meu corpo. Começo a fazer escolhas, a me arriscar um pouco, a experimentar mais. Já não estou encolhida ou tateando paredes no escuro, isso passou. Agora contemplo tudo, amplio horizontes. São muitas direções e caminhos e não saber por onde andar assusta. Certamente, outrora eu teria dado meia volta e escolhido um canto para sentar, encolhida, de olhos fechados.

sábado, 31 de maio de 2014

Liberte a criança dentro de você! Mais sobre o sal da vida...

Garota pequenina
Brincando de amarelinha.
Pulando e saltando
Chega ao céu.
Risos,
Gargalhadas,
Palavras cantadas,
Caretas!
Menina borboleta,
Com varinha de condão.
Não quer mais ver as estrelas?
O que aconteceu?
Pequena, não se esconda
Se tem medo abra seu sorriso,
Ele é que abriga,
iluminando a vida!

-Mariana Carpilovsky,  31/05/2014

terça-feira, 27 de maio de 2014

E os peixinhos a nadar....


Já não é a primeira vez que chego em casa antes de todos. Casa escura, aquário apagado, silêncio. Sensação desagradável essa de chegar sozinha, mas, para o meu conforto, a luz do aquário logo se acendeu. 
Quando acontece isso fico sentada no sofá, sem fazer nada, olhando os peixes e eles me olhando de volta, todos amontoados num canto mais próximo de mim, querem comida, óbvio. Fico alguns instantes ouvido o barulho do filtro, vendo as bolhas de ar e meus bichinhos coloridos nadando para lá e para cá. Esse aquário me acalma.
Penso na vida, penso no cansaço e na minha orelha inflamada que lateja. Um louco passa berrando no Play. Eu rio. Separo uns artigos da pilha dos artigos que eu junto para nunca serem lidos por falta de tempo e pelo esquecimento. Deito no sofá e, com um sorriso no rosto, pensando que, apesar de tudo, eu estou fazendo o que gosto, começo a ler. E os peixinhos continuam nadando.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Impressões do internato: Gineco

Eis que meu rotatório chegou na gineco. Aliás, chegou há um tempo, eu que deixei o blog meio empoeirado nessas últimas semanas.

Eis que mordo a minha língua. Eu, que sempre fui muito firme dizendo "eca, ninguém merece gineco!", "é muita intimidade exposta", "não gosto de ficar examinando vulva e vagina!", agora vejo que a especialidade não é tão ruim assim.

Ainda continua não sendo a especialidade para mim, eu ainda me sinto desconfortável e não posso dizer que eu goste de toque e exame ginecológico.  Eu retiro o que eu disse!! Estou total in love! Essa passagem pelo serviço de ginecologia fez com que eu aprendesse a admirar essa especialidade, justamente por causa do carinho com que as pacientes são tratadas, o cuidado e o respeito. 

Aliás, nós internos somos respeitados e todos os professores e médicos têm a maior paciência e disposição do mundo para ensinar, explicar e de nos ouvir. O ensino é o diferencial da rotatória de gineco no HUGG, nós não estamos lá para tocar serviço, estamos lá para de fato aprender medicina! Eles conseguem fazer com que os alunos "ginecofóbicos" (como eu) acabem gostando do ambulatório e da prática. Quem dera o internato fosse inteiro igual ao de gineco! Não é a toa que muitos colegas que passam por lá se apaixonam pela especialidade!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Estigma


Um dia minha priminha de 8 anos me perguntou: "Você vai ser pediatra?" Respondi que não, que eu seria psiquiatra. Ela me vira e diz: "Ah, então você vai cuidar de maluco?". E a ideia continua, apenas oito aninhos, já associando psiquiatra com louco. Expliquei à ela que não era bem assim, mas não fui muito convincente. Com essa conversa lembrei de  um texto que publiquei no face, há muito tempo.

"O estigma de receber um diagnóstico de doença psiquiátrica. Um mundo novo surge. Por mais que se tente atenuar usando a palavra síndrome ou a palavra transtorno, não se consegue tirar o peso dessa porta que se abriu. Automaticamente todos caem num mesmo saco, o saco dos loucos, o estigma é esse e, infelizmente, não vai mudar tão cedo. Isso dificulta a própria aceitação do diagnóstico.


O preconceito ainda existe na forma dessa associação do médico psiquiatra com o paciente louco. Se não fosse por essa ideia pré concebida muitas pessoas que foram à ruína, ao fundo do poço, ao esgotamento teriam pedido ajuda antes. Antes que fosse tarde demais. Antes de pular da ponte, antes de engolir uma cartela de remédio, antes de cortar os pulsos, antes de cair em depressão."

Aliás, quanto à depressão... Apesar de todo o estígma, ter depressão está na moda, as pessoas confundem tristeza, confundem tédio com depressão, o que acaba por ofuscar os que realmente tem a doença, muitos médicos não levam a sério as queixas.  Uma vez, na enfermaria, estávamos conversando sobre uma paciente, com depressão. Uma amiga falou: " Essa paciente é psiquiátrica." (o que está correto). Logo em seguida outra colega vira: "Ela não é psiquiátrica!" e eu viro e digo: "É sim." Então, a mesma colega responde: "Ela só está deprimida." e " Se for assim eu também sou psiquiátrica então!". Imagina, "só deprimida". Aliás, o mais triste foi, ouvir de uma colega, estudante de medicina,  essa ideia tão negativa do paciente psiquiátrico. 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Anorexia nervosa


3:50 da manhã, já nem precisa mais de despertador, já acorda sozinha. Hora de levantar e iniciar sua rotina. Trocar o pijama quentinho para roupa de ginástica é duro, principalmente no inverno, mas é para um bem maior. A calça está larga, diz esboçando um sorriso. Põe um tapete no chão, tem que ser silenciosa, não pode acordar ninguém! 

Sentada no tapete começa a calcular: 100 abdominais equivalem a 30Kcal, então ela deve fazer mil, no mínimo. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,..., 24, 25. Agora faltam só 39 séries de 25. Andar em círculos no quarto seria mais fácil, mas os abdominais são mais silenciosos. Se ontem conseguiu fazer 500, por que não conseguiria fazer mil hoje? 

20 séries de 25. Está morrendo de dor. 500, igual a ontem. Ok, preciso fazer mais 100. 500 equivalem a 150Kcal, com mais 100 chego a 180kcal. Depois eu me permito descansar por meia hora e começo a andar em círculos pelo quarto, 40 minutos de caminhada são 99Kcal. Com isso deve conseguir cobrir o café da manhã, tem que queimar o que comer.  Terminada a rotina, hora do banho. Não tem mais espelhos no banheiro, nem balança. Retiraram.  Sua mãe grita para vir comer. Não pode ser no quarto? Sozinha? Nem pensar, todos a vigiam. 

Chega na cozinha e o café da manhã mudou. Não pode mudar! Precisa comer sempre a mesma coisa, é mais seguro! Não quer muffins, mas tem que comer. E iogurte. Começa a suar frio, o coração acelera. Senta-se à mesa, e começa a picar os bolinhos em pedacinhos cada vez menores. O processo de comer foi tão longo que quase perdeu o ônibus. Está ansiosa, vasculha na bolsa seu SOS. 5 gotas de clonazepam. Ela vai dormir na aula. Tudo bem, uma hora dormindo equivale a gastar 65Kcal.

Na foto:  Isabelle Caro, ex-modelo francesa, em campanha contra anorexia, faleceu em 2010, lutando contra anorexia, que tinha desde seus 13 anos. Esse é um transtorno psiquiátrico grave, que mata, aliás, um dos que mais mata, talvez o que mais mate.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Sobre ser futura médica 4



"É no internato que mais se aprende!". Já ouvi muito essa frase de diversos amigos e professores. Sim, estão certos, de fato é onde mais estou aprendendo. Outra frase que já ouvi durante a minha vida toda é aquela clássica de que só aprendemos com os erros. Pois bem, concordo, aprendo com os meus erros e com o dos outros. E, ultimamente, tenho aprendido muito.
Na condição de interna estou na base da cadeia alimentar, só ganho dos períodos abaixo. Estou no primeiro período do internato e comecei a rodar justo onde se encontram os deuses e semi-deuses do hospital. No monte Olimpo do hospital onde estudo, me dei conta de que não tenho voz, sou "só a interna". Sou só uma das pessoas que evoluem os pacientes, que levam para fazer alguns exames, que basicamente tocam o serviço da enfermaria enquanto os deuses e semi-deuses estão em ou outro lugar,  treinando suas habilidades manuais. Confundindo pessoas com objetos, suponho eu. 

Tenho observado que, cada vez mais, tratam a doença, não o doente. Esquecem que por trás de uma colecistite, apendicite, câncer de cólon, de estômago, de pâncreas, seja lá do que for, tem um paciente. Isso gera uma revolta em mim, fico com raiva e frustrada ao mesmo tempo. Presencio situações muito erradas, desrespeitosas até, mas na minha condição dentro do monte Olimpo, estou de mãos atadas, sou "só a interna". Só a pessoa que "você deve ter se enganado, não aconteceu assim"!

Sou obrigada a aturar isso, de boca fechada. Pois bem, aprendo com exemplos. Dizem que a faculdade é muito técnica, que não aprendemos algumas coisas. Realmente, não existe um livro com o segredo de ser um bom médico. No entanto, eu, na minha humilde posição de interna, digo que a faculdade ensina muito mais do que pensamos que aprendemos, o problema é que só aprende quem quer, quem consegue observar o que acontece a sua volta e refletir sobre os fatos ocorridos. E, olha, acontece tanta coisa, mas tanta coisa a minha volta, que eu chego até a ficar sobrecarregada com o "aprendizado indireto".

Infelizmente, parte da afirmativa que fiz lá em cima, é verdadeira. Ninguém aprende a ser honesto e responsável na faculdade. Ninguém aprende a se importar com o próximo na faculdade. Isso vem de berço! Ninguém aprende a ter empatia pelo doente, isso é da personalidade de cada um. Podemos até desenvolver simpatia pela situação, o que ajuda na relação médico paciente, mas uma pessoa que não tem empatia, muito provavelmente, se não receber um empurrãozinho, ficará "desconectada".

Eu sou ingênua, cada vez que presencio algo de errado eu fico surpresa. Diante de alguns absurdos que vejo, fico pensando em como, cada vez mais, pessoas são capazes de fazer atrocidades. Uma vez, no medcurso, presenciei a seguinte cena: uma menina que estava com a perna imobilizada foi chamada atenção por apoiar a perna numa cadeira ao lado. A justificativa dada pela funcionária era de que alguns alunos vieram reclamar que ela estava atrapalhando a passagem. Ela teve que mudar de lugar. Pedir licença não existe não? Nem mudar de caminho? Eu fico aqui pensando: "Essa é a geração de futuros médicos..." 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O jardim que não floresce

Era uma tarde qualquer. Nem quente nem fria. Nem sol nem chuva. Totalmente sem sal. Sair da cama foi difícil, apesar de estar desperta desde as 5. Tudo era muito complicado, que demora para levantar! Tarefa outrora tão simples, agora tão árdua. Por mais que tenha passado 7 horas deitada na cama, no quarto escuro, dominada por estranhos pensamentos, ainda tinha o dia todo pela frente! Já estava cansada só de pensar nisso.

Contou até 3 algumas vezes até que numa hora conseguiu se livrar das cobertas. É só pisar no chão, levantar e abrir a janela, vamos lá, força! Seguiu cabisbaixa pelo corredor, passou pelo banheiro, ignorando o espelho, pensou em tomar banho, mas logo desistiu, não tinha planos de sair mesmo. Que dia é hoje mesmo? Ainda estamos em agosto? Não sabia, não ligava. Nada mais importava. Seguiu até a cozinha.

Passou pelo telefone, repleto de chamadas perdidas e mensagens não lidas. Depois vejo isso. O que ía fazer mesmo? Ah, sim, água, cozinha. Onde mesmo que guardei os copos? Olhou em volta e, por fim, lembrou. Pegou sua água, seguiu para a sala e, sem acender a luz, sentou no sofá. Seria capaz de passar mais sete horas sentada olhando para o nada. Bebeu a água. Olhando em volta reparou nas revistas acumuladas, jornais e contas empilhadas na mesa. Fui eu que arrumei isso? Não lembro... 

Suspirou. Deitou no sofá e tentou escapar da realidade novamente, mas não obteve sucesso. Seria melhor que eu acabasse com isso logo, por que é que um raio não cai logo na minha cabeça?! Lágrimas escorreram pelo rosto. Eu queria sumir, nunca mais aparecer! Não faria falta nem seria peso na vida de ninguém! Queria morrer, mas sou tão covarde. Covarde até para isso! Levantou-se e foi até as pilhas de jornais. Tinha um bilhete em cima, nele estava escrito: "Você precisa de ajuda! Ligue para mim, por favor, beijos, da sua amiga, Marina".

Marininha. Cresceram juntas. Pegou o bilhete e o abraçou, mais lágrimas caíram. Elas estavam sempre unidas. Por que é que me afastei tanto de todos? Não encontrou nenhuma resposta. Enxugou o rosto, pegou o telefone e ligou. "Clarinha! ainda bem! Estava preocupada, vou para sua casa agora mesmo!". Entre lágrimas e soluços consegue responder. "Marina, acho que meu jardim está morto, nada mais cresce nele...". 

sábado, 5 de abril de 2014

Poesia da semana

Girl before a Mirror - Pablo Picasso,1932
Meus olhos sorrindo
Esconcondem o que realmente sinto.
Minha boca, fechada num sorriso,
Prende minhas palavras.
É assim que sou,
Aos olhos dos outros,
Fonte de luz.
Olhando para dentro,
Vejo tudo que é sentimento,
Um furacão de emoções,
Preso, querendo sair.
Enquanto isso o sorriso permanece,
A mesma máscara sempre,
A mesma calmaria aparente.

- Mariana Carpilovsky (17/02/2014)

segunda-feira, 31 de março de 2014

Salada só pros fortes (vegan!!)

Faz tempo que não posto nada de comida aqui, não é? Como eu fiz uma salada de rabanete, cebola e tomate para a minha mãe, que gosta muito, resolvi que iria postar a receita dela aqui.


    • Ingredientes:

  • 2 cebolas
  • 3 a 4 tomates maduros ou quase maduros
  • Rabanetes
  • Vinagre
  • Pimenta, qualquer uma, mas não aconselho escolherr pimenta do reino (o sabor compete com o da salada)
  • Azeite
  • Shoyu

    • Modo de fazer:
É muito simples, cortar as cebolas, tomates e os rabanetes em rodelas, quanto mais fino melhor. Se você tiver aqueles cortadores de alimento fica mais fácil, mas não é necessario. 
A partir daí é só colocar em um recipiente de vidro, não aconselho ser de plástico, pois a cebola deixa cheiro no recipiente.

Primeiro uma camada de cebola, depois de rabanete, depois de tomate. Então você põe vinagre, POUCO shoyu e pimenta. E por aí vai ate acabarem os ingredientes. Depois adicionar o azeite e está pronta a sua salada. Fica melhor no dia seguinte.

Essa salada é simples, rápida e é deliciosa, perfeita para um dia quente (o que não falta aqui no Rio). Sei que muitos não gostam de rabanete e cebola crua... Acontece que a minha mãe, que passou para mim, tem genes esquisitos que fazem com que a gente aprecie comidas picantes e amargas, vai entender.

Bom, é isso, fica a dica para quem gosta, quem não gosta, paciência, não dá para agradar a todos, mas em uma coisa podemos todos concordar, que é uma saladinha que fica linda.   

Obviamente não jogamos fora o que sobrou dos ingredientes, guardamos em potinhos para aproveitá-los em outros pratos. No meu caso sobrou tomate e rabanete, mas normalmente o tomate não sobra, o que sempre sobra é o rabanete, que sempre vendem aos montes, nunca em quantidades pequenas.

Ah, lógico, já ía esquecendo da parte mais legal, essa receita é totalmente vegan! 

:)


quarta-feira, 26 de março de 2014

Conto outro conto



Cinquenta minutos. Cinquenta. Está aqui há menos de uma hora e já quer sair. Música alta, luz no rosto, garfos caindo no chão, pessoas conversando, amigos conversando com ele, tem que decidir o que comer. Já chegou a bebida? Você que pediu isso? Ei, você quer dividir um prato? Ei, tem alguém aí?! Para de autistar e presta atenção no que estou falando! Volta a si mesmo, esgotado. Muitos estímulos, muita gente. Respira fundo. Estou. Sim, vamos dividir! Então, o que você quer? 
O que ele quer? Pensar numa rota de fuga. Como fazer para voltar pra casa? Está no meio de dois amigos, numa mesa no fundo. Tem a banda, a mesa de sinuca e a escada antes da porta. Está sufocado, coração acelerado, vontade de sumir, correr dali, socorro! Que tensão, o pescoço dói muito. Frango xadrez? Cara, quem pede frango xadrez num bar?! Tem isso aqui? Vamos pedir uma pizza. Ok, serve qualquer uma. 
Então, quais são seus planos de fim de semana? Planos? Tem que planejar o fim de semana?! Ai deus! Não sabe o que fazer, estava pensando em ler, ver um filme. Você e seus livros, que coisa mais chata, vem beber com a gente! Mas a gente não está bebendo agora, tem que sair para beber no fim de semana também? É, a gente combina quando chegar mais perto.
Se sair daqui depois de onze horas perde o metrô. Não quer voltar de ônibus no escuro. Taxi? É a solução. Pedir um taxi e voltar tranquilamente para casa, mas e se a companhia de taxi não atender a ligação? E se não tiver taxi? Precisa ir ao banhero! Respira, respira, respira, respira. Lava o rosto, pega o celular e agenda o taxi. Alívio. Pronto para voltar para a mesa do bar? Veremos.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Poesia da semana

I know the bottom, she says. I know it with my great tap root:   
It is what you fear.
I do not fear it: I have been there.

Is it the sea you hear in me,   
Its dissatisfactions?
Or the voice of nothing, that was your madness?

Love is a shadow.
How you lie and cry after it
Listen: these are its hooves: it has gone off, like a horse.

All night I shall gallop thus, impetuously,
Till your head is a stone, your pillow a little turf,   
Echoing, echoing.

Or shall I bring you the sound of poisons?   
This is rain now, this big hush.
And this is the fruit of it: tin-white, like arsenic.

I have suffered the atrocity of sunsets.   
Scorched to the root
My red filaments burn and stand, a hand of wires.

Now I break up in pieces that fly about like clubs.   
A wind of such violence
Will tolerate no bystanding: I must shriek.

The moon, also, is merciless: she would drag me   
Cruelly, being barren.
Her radiance scathes me. Or perhaps I have caught her.

I let her go. I let her go
Diminished and flat, as after radical surgery.   
How your bad dreams possess and endow me.

I am inhabited by a cry.   
Nightly it flaps out
Looking, with its hooks, for something to love.

I am terrified by this dark thing   
That sleeps in me;
All day I feel its soft, feathery turnings, its malignity.

Clouds pass and disperse.
Are those the faces of love, those pale irretrievables?   
Is it for such I agitate my heart?

I am incapable of more knowledge.   
What is this, this face
So murderous in its strangle of branches?——

Its snaky acids hiss.
It petrifies the will. These are the isolate, slow faults   
That kill, that kill, that kill.

Sylvia Plath, “Elm” from Collected Poems. Copyright © 1960, 1965, 1971, 1981 by the Estate of Sylvia Plath. Editorial matter copyright © 1981 by Ted Hughes. Used by permission of HarperCollins Publishers.



quarta-feira, 19 de março de 2014

Conto mais um conto



Uma coleção de cartas, poemas e flores secas dentro de uma caixa velha, com uma fita de cetim, outrora branca, mas hoje amarelada, a envolvendo. Ela pegou as cartas nas mãos, cheirou e guardou junto ao peito durante alguns minutos, suspirando. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

Então foi isso que sobrou? Então quer dizer que anos juntos, muitos momentos especiais, muito amor e afeto evaporaram assim, dessa maneira tão abrupta que a única coisa concreta que sobrou foram as cartas guardadas com tanto carinho? Fora isso só as lembranças. 

Como não percebi o que era tão óbvio? Por que me deixei enganar dessa maneira? Eu sabia que o amor tinha acabado, mas preferi não enxergar. Só não imaginava que iria sofrer tanto. Um dia ele simplesmente se foi, sem ao menos dar explicações.

O homem que tanto amei já não estava mais comigo, ele era outro, um estranho. Sua energia e vitalidade foram sugadas e eu simplesmente deixei que isso acontecesse. Talvez eu mesma não já não fosse a mulher com quem ele se casou. Sua amada nunca deixaria que as coisas tomassem esse rumo.

Pôs as cartas ao lado da caixa, não tinha forças para lê-las. Pegou as flores, eram rosas, margaridas e lavanda, as colocando em cima das cartas, ainda tinham cheiro. O cheiro das tardes que passaram juntos caminhando ao sol. Por último, embrulhado cuidadosamente em um lenço bordado, estava um parzinho de sapatos tricotados. Nunca foram usados.



domingo, 16 de março de 2014

Quando bate aquela saudade...





Meu coração às vezes chora,
Silenciosamente chora.
Por aquela que já se foi,
Existindo apenas na memória.
Fotos, filmes e escritos,
Todos evocam lembranças,
Momentos cheios de saudade,
Mesmo quando brigava comigo.
Minha flor do amor!
Ah, o perfume de rosa!
Ela sempre usava.
Sua voz agora ecoa na minha mente:
"Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado..."

-Mariana Carpilovsky

quinta-feira, 13 de março de 2014

Poesia da semana



Apesar da temática até que o poeminha ficou fofo! Eu tô bem, viu gente? Só estou jogando com as palavras e brincando com os meus mecanismos de defesa (nada saudáveis) contra o estresse... A primeira coisa para conseguir mudar não é identificar o problema? Então, estou na fase de, depois de identificar e pensar muito, brincar com meus problemas. Eles são parte de mim, eu cresci assim então, em vez de tentar me desfazer deles, estou tentando me aceitar do jeitinho que eu sou. Aceitando essa faceta, talvez eu abra espaço para outras facetas... Eu não consegui nada com a resistência e a negação, vamos ver se eu consigo alguma coisa ao "me render" de maneira saudável a eles!

terça-feira, 11 de março de 2014

Loucura minha de todas as noites

Hoje é uma daquelas noites em que eu estou transbordando e não sei o que fazer exatamente em relação a isso. Ficar parada me incomoda, mas não consigo achar um recurso para retornar ao meu estado basal. É um daqueles dias em que quero escrever, mas não saem palavras, tento desenhar, mas a ponta do lápis quebra. Está muito quente para tomar chá, muito tarde para sair para nadar e já tomei banho. Estou com sono demais para ler e agitada demais para dormir. 

Pense no azul, pense no azul, pense no azul. Pensar no azul por quê? Não estou nervosa nem ansiosa. Só estou agitada e encucada por não entender o motivo para isso. O dia não foi agitado e amanhã também aparenta ser um dia calmo. É numa hora dessas que penso: "será que algo está para acontecer?"  Obviamente sempre algo está para acontecer, a vida é assim, os fatos  supostamente foram feitos para serem acontecidos! Só que não foi isso que eu quis dizer... 

Às vezes tenho a nítida impressão de que algo está acontecendo bem debaixo do meu nariz e eu não estou enxergando e isso acaba gerando uma certa apreensão em mim. Loucura! Se bem que sou estudante de medicina, portanto considero que tenho mais que "um pouco" de médico. Isso faz com que a minha parte louca, seja menor, não? Ou, quem sabe, ela seja maior só pra equilibrar? Bom, tendo em vista esse texto que acabo de escrever, acho que fico com a segunda hipótese! 

Boa noite!

Explicação para a minha bolha...

Acho que os que me conhecem bem já me ouviram falar sobre a minha famigerada bolha. Pois bem, essa bolha não é nada mais que um mecanismo de defesa meu. Eu já fui taxada como antipática, anti-social, introvertida, tímida... Sabem de uma coisa? Eu não sou nada disso! (Ok, sou tímida e beeeem reservada)

O que acontece comigo é que sou sensível demais aos estímulos externos, tudo é muito intenso. É como se eu tivesse menos fronteiras protetoras, como se o meu eu se misturasse com o resto do mundo... Sei lá... Barulhos, algumas fragrâncias, música alta, muitas pessoas, luz, muita informação rolando ao mesmo tempo, todas essas coisas me desequilibram um pouco, é muita informação! Como eu não sabia como lidar com isso acabei me agarrando à "bolha" e me isolando do mundo um pouco. Tem estudos dizendo que 15 a 20% da população é assim e, portanto, não é considerado uma doença, nem um transtorno. É uma coisa natural, inata.

Por acaso me deparei com esse site: http://www.hsperson.com e me achei! Sim, eu sou o que consideram highly sensitive person. Quero muito comprar o livro dessa autora, Elaine Aron "Highly Sensitive Person" para entender melhor o que é isso. Já baixei no site alguns artigos e tal, devo lê-los em breve. Talvez eu ache as respostas para o meu jeito peculiar de ser. Quem sabe, né??

Muitas das minhas amigas já me pegaram olhando pro nada e "autistando" no meio de rounds, conversas, num barzinho, em festas... É difícil explicar para os outros, mas essa sou eu pedindo arreto e indo recarregar minhas energias no meu mundinho. Eu realmente entro em alfa, é bizarro, se me chamarem eu volto rapidinho, só que eu preciso desses minutinhos...

Não sei se consegui explicar direito, é um conceito novo até para mim, mas é isso que eu queria falar hoje.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Coisas que aprendi na escola...



Vou começar pelas coisas positivas que, infelizmente, não são muitas, mas têm uma importância muito grande na minha vida. Essa história de que as melhores amizades e mais antigas vêm dessa época é a mais pura verdade. Minhas melhores amigas vêm da escola, não só de uma, mas muitas me acompanham mesmo eu tendo mudado de escola duas vezes. É o tipo de amizade que não acaba, sabe? Por mais longe que você esteja, por menos que você saia com elas, quando nos encontramos é como se nada tivesse mudado. São amizades sinceras, a gente fala o que dá na telha, fala o que quer e ouve o que não quer, nos aceitamos do jeito que somos, por mais que às vezes fiquemos irritadas umas com as outras. É uma amizade em que não há julgamento.

Bom, agora a parte chata. Eu aprendi que as pessoas, principalmente as mini-pessoas, são más. Criança é um bicho escroto! Ao longo dos anos ficou claro para mim que era melhor guardar minhas opiniões, afinal não interessavam a ninguém. Aprendi a não falar com qualquer um sobre os meus gostos pq, obviamente, eram ridículos, já que eu não gostava das mesmas coisas que todo mundo.

Aprendi a me isolar na leitura, o que me rendeu uma boa impopularidade e comentários do tipo: "ela nem lê nada, finge que lê no recreio só pra que os outros achem que ela é inteligente" ou "o professor só escolheu esse livro difícil  porque a Carpilovsky estava lendo!". As pessoas pensam que eu não escutava, mas, sinceramente, não sou surda né... 

Uma coisa que é minha é essa coisa de não esquecer, sabem? Eu lembro de todas as zoações. Todos os comentários maldosos, de como me olhavam durante a aula de educação física quando eu fazia alguma merda durante o jogo, afinal eu n tava nem aí pro jogo, eu n sabia jogar direito e também não gostava, além de não ser nada competitiva. Eu também era xingada durante as aulas de educação física.

Eu aprendi a ficar na minha e, quando, finalmente entendi que o melhor a se fazer era ignorar as pessoas, ligar o foda-se, minha vida melhorou. Lógico que a nerd-gorda-esquisita-quesevestemal-quenãobebe-quejogamal-queocabeloéhorrivel-quegostadedesenhojaponês(freak)-quefalapouco [sim, eu ouvi isso da boca de muita gente, não é mania de perseguição] nunca deixou de existir, mas eu parei de ligar. Infelizmente isso foi só no terceiro ano...

A escola, para mim, foi um inferno, eu nunca tive lá uma boa auto estima, sempre fui insegura e, como tive esse tipo de problemas em diferentes escolas, achava que o problema estava em mim. Eu encarava todos os dias, sozinha, calada, nunca reclamei com ninguém. Eu nunca revidei os comentários, nunca entrei numa briga, nunca contra argumentei, sempre engolia e saía, de cabeça baixa, pensando no que eu tinha feito àquela pessoa para merecer isso ou aquilo. A única pessoa que desconfiou de alguma coisa errada foi minha pediatra, mas eu fiz um trabalho muito bom de convencer minha mãe de que estava tudo bem, que a médica estava exagerando. Isso foi uma péssima ideia, provavelmente, se minha mãe não tivesse me ouvido, eu não teria metade dos problemas que tenho hoje... Mas nunca se sabe...

Enfim, escola... É, todos temos que passar por ela... E, provavelmente, eu devo ter sido má sem querer com outra pessoa e nunca fiquei sabendo afinal, crianças fazem isso sem perceber. Muitas vezes o que é brincadeira para um, pode ser uma ofensa para o outro e aquele nem sabe que fez mal de verdade ao coleguinha.

Voltando às minhas amigas, ainda bem que elas estavam lá, sem elas não sei o que seria de mim. Ah, quero deixar claro que muito do que aprendi na escola já foi descartado e que não estou acusando ninguém nem culpando ninguém além de mim. Eu que não soube como lidar com as pessoas de maneira decente, eu que guardei tudo para mim, eu que me deixei ser afetada por palavras alheias...


quarta-feira, 5 de março de 2014

Hello Poetry

Outro dia descobri um site muito legal para quem gosta de poesia. O nome é Hello Poetry. Você se cadastra e aí recebe uma poesia por dia. São todas em inglês, dos próprios usuários, vc também pode mandar a sua. Recebi uma que mexeu muito comigo...

Feb 16
Escapism
by Theia Gwen

She reads

                                          And she sleeps
                                                      Way too much
                                                                       It's her coping defence 
                                                                               When nothing else will suffice
                                                                        She needs to get away
                                                       Without actually leaving
                                             Because she's too scared 
                                   And too tired
                                            To leave her bed
                                                      So she cracks open a book
                                                                 To escape somewhere far away
                                                                         And she'll sob for the characters
                                                                             Whose brokenness resembles hers
                                                                                               And then she'll sleep
                                                                                              And have sweet dreams
                                                                        Of realities that are not her own
                                                       Because pretending is so much easier
                                                 Than facing reality
                             So she'll sleep and dream
          And secretly wish she won't wake up
So she can finally escape


Linda, não??