Era uma tarde qualquer. Nem quente nem fria. Nem sol nem chuva. Totalmente sem sal. Sair da cama foi difícil, apesar de estar desperta desde as 5. Tudo era muito complicado, que demora para levantar! Tarefa outrora tão simples, agora tão árdua. Por mais que tenha passado 7 horas deitada na cama, no quarto escuro, dominada por estranhos pensamentos, ainda tinha o dia todo pela frente! Já estava cansada só de pensar nisso.
Contou até 3 algumas vezes até que numa hora conseguiu se livrar das cobertas. É só pisar no chão, levantar e abrir a janela, vamos lá, força! Seguiu cabisbaixa pelo corredor, passou pelo banheiro, ignorando o espelho, pensou em tomar banho, mas logo desistiu, não tinha planos de sair mesmo. Que dia é hoje mesmo? Ainda estamos em agosto? Não sabia, não ligava. Nada mais importava. Seguiu até a cozinha.
Passou pelo telefone, repleto de chamadas perdidas e mensagens não lidas. Depois vejo isso. O que ía fazer mesmo? Ah, sim, água, cozinha. Onde mesmo que guardei os copos? Olhou em volta e, por fim, lembrou. Pegou sua água, seguiu para a sala e, sem acender a luz, sentou no sofá. Seria capaz de passar mais sete horas sentada olhando para o nada. Bebeu a água. Olhando em volta reparou nas revistas acumuladas, jornais e contas empilhadas na mesa. Fui eu que arrumei isso? Não lembro...
Suspirou. Deitou no sofá e tentou escapar da realidade novamente, mas não obteve sucesso. Seria melhor que eu acabasse com isso logo, por que é que um raio não cai logo na minha cabeça?! Lágrimas escorreram pelo rosto. Eu queria sumir, nunca mais aparecer! Não faria falta nem seria peso na vida de ninguém! Queria morrer, mas sou tão covarde. Covarde até para isso! Levantou-se e foi até as pilhas de jornais. Tinha um bilhete em cima, nele estava escrito: "Você precisa de ajuda! Ligue para mim, por favor, beijos, da sua amiga, Marina".
Marininha. Cresceram juntas. Pegou o bilhete e o abraçou, mais lágrimas caíram. Elas estavam sempre unidas. Por que é que me afastei tanto de todos? Não encontrou nenhuma resposta. Enxugou o rosto, pegou o telefone e ligou. "Clarinha! ainda bem! Estava preocupada, vou para sua casa agora mesmo!". Entre lágrimas e soluços consegue responder. "Marina, acho que meu jardim está morto, nada mais cresce nele...".
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