quarta-feira, 16 de abril de 2014

Anorexia nervosa


3:50 da manhã, já nem precisa mais de despertador, já acorda sozinha. Hora de levantar e iniciar sua rotina. Trocar o pijama quentinho para roupa de ginástica é duro, principalmente no inverno, mas é para um bem maior. A calça está larga, diz esboçando um sorriso. Põe um tapete no chão, tem que ser silenciosa, não pode acordar ninguém! 

Sentada no tapete começa a calcular: 100 abdominais equivalem a 30Kcal, então ela deve fazer mil, no mínimo. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,..., 24, 25. Agora faltam só 39 séries de 25. Andar em círculos no quarto seria mais fácil, mas os abdominais são mais silenciosos. Se ontem conseguiu fazer 500, por que não conseguiria fazer mil hoje? 

20 séries de 25. Está morrendo de dor. 500, igual a ontem. Ok, preciso fazer mais 100. 500 equivalem a 150Kcal, com mais 100 chego a 180kcal. Depois eu me permito descansar por meia hora e começo a andar em círculos pelo quarto, 40 minutos de caminhada são 99Kcal. Com isso deve conseguir cobrir o café da manhã, tem que queimar o que comer.  Terminada a rotina, hora do banho. Não tem mais espelhos no banheiro, nem balança. Retiraram.  Sua mãe grita para vir comer. Não pode ser no quarto? Sozinha? Nem pensar, todos a vigiam. 

Chega na cozinha e o café da manhã mudou. Não pode mudar! Precisa comer sempre a mesma coisa, é mais seguro! Não quer muffins, mas tem que comer. E iogurte. Começa a suar frio, o coração acelera. Senta-se à mesa, e começa a picar os bolinhos em pedacinhos cada vez menores. O processo de comer foi tão longo que quase perdeu o ônibus. Está ansiosa, vasculha na bolsa seu SOS. 5 gotas de clonazepam. Ela vai dormir na aula. Tudo bem, uma hora dormindo equivale a gastar 65Kcal.

Na foto:  Isabelle Caro, ex-modelo francesa, em campanha contra anorexia, faleceu em 2010, lutando contra anorexia, que tinha desde seus 13 anos. Esse é um transtorno psiquiátrico grave, que mata, aliás, um dos que mais mata, talvez o que mais mate.

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