Vou começar pelas coisas positivas que, infelizmente, não são muitas, mas têm uma importância muito grande na minha vida. Essa história de que as melhores amizades e mais antigas vêm dessa época é a mais pura verdade. Minhas melhores amigas vêm da escola, não só de uma, mas muitas me acompanham mesmo eu tendo mudado de escola duas vezes. É o tipo de amizade que não acaba, sabe? Por mais longe que você esteja, por menos que você saia com elas, quando nos encontramos é como se nada tivesse mudado. São amizades sinceras, a gente fala o que dá na telha, fala o que quer e ouve o que não quer, nos aceitamos do jeito que somos, por mais que às vezes fiquemos irritadas umas com as outras. É uma amizade em que não há julgamento.
Bom, agora a parte chata. Eu aprendi que as pessoas, principalmente as mini-pessoas, são más. Criança é um bicho escroto! Ao longo dos anos ficou claro para mim que era melhor guardar minhas opiniões, afinal não interessavam a ninguém. Aprendi a não falar com qualquer um sobre os meus gostos pq, obviamente, eram ridículos, já que eu não gostava das mesmas coisas que todo mundo.
Aprendi a me isolar na leitura, o que me rendeu uma boa impopularidade e comentários do tipo: "ela nem lê nada, finge que lê no recreio só pra que os outros achem que ela é inteligente" ou "o professor só escolheu esse livro difícil porque a Carpilovsky estava lendo!". As pessoas pensam que eu não escutava, mas, sinceramente, não sou surda né...
Uma coisa que é minha é essa coisa de não esquecer, sabem? Eu lembro de todas as zoações. Todos os comentários maldosos, de como me olhavam durante a aula de educação física quando eu fazia alguma merda durante o jogo, afinal eu n tava nem aí pro jogo, eu n sabia jogar direito e também não gostava, além de não ser nada competitiva. Eu também era xingada durante as aulas de educação física.
Eu aprendi a ficar na minha e, quando, finalmente entendi que o melhor a se fazer era ignorar as pessoas, ligar o foda-se, minha vida melhorou. Lógico que a nerd-gorda-esquisita-quesevestemal-quenãobebe-quejogamal-queocabeloéhorrivel-quegostadedesenhojaponês(freak)-quefalapouco [sim, eu ouvi isso da boca de muita gente, não é mania de perseguição] nunca deixou de existir, mas eu parei de ligar. Infelizmente isso foi só no terceiro ano...
A escola, para mim, foi um inferno, eu nunca tive lá uma boa auto estima, sempre fui insegura e, como tive esse tipo de problemas em diferentes escolas, achava que o problema estava em mim. Eu encarava todos os dias, sozinha, calada, nunca reclamei com ninguém. Eu nunca revidei os comentários, nunca entrei numa briga, nunca contra argumentei, sempre engolia e saía, de cabeça baixa, pensando no que eu tinha feito àquela pessoa para merecer isso ou aquilo. A única pessoa que desconfiou de alguma coisa errada foi minha pediatra, mas eu fiz um trabalho muito bom de convencer minha mãe de que estava tudo bem, que a médica estava exagerando. Isso foi uma péssima ideia, provavelmente, se minha mãe não tivesse me ouvido, eu não teria metade dos problemas que tenho hoje... Mas nunca se sabe...
Enfim, escola... É, todos temos que passar por ela... E, provavelmente, eu devo ter sido má sem querer com outra pessoa e nunca fiquei sabendo afinal, crianças fazem isso sem perceber. Muitas vezes o que é brincadeira para um, pode ser uma ofensa para o outro e aquele nem sabe que fez mal de verdade ao coleguinha.
Voltando às minhas amigas, ainda bem que elas estavam lá, sem elas não sei o que seria de mim. Ah, quero deixar claro que muito do que aprendi na escola já foi descartado e que não estou acusando ninguém nem culpando ninguém além de mim. Eu que não soube como lidar com as pessoas de maneira decente, eu que guardei tudo para mim, eu que me deixei ser afetada por palavras alheias...