domingo, 22 de setembro de 2013

Ossos do ofício


     Hoje o dia começou mal, de cara logo um óbito, que, apesar de esperado, mexeu um bocado não só comigo, mas também com minha colega de plantão. Não vou pedir para que um dia eu me acostume com isso, mas espero que com o passar do tempo eu aprenda a lidar melhor com a situação sem que, para isso, eu me torne fria.
     Três médicos, uma fisioterapeuta e alguns vários enfermeiros tentaram reanimar o doente. Deram o máximo de si, mesmo sabendo que provavelmente os esforços seriam em vão. É nessas horas que a gente se pega frustrado, tomado por um sentimento enorme de impotência, mas temos que ter em mente que não somos Deus, não dá para ter o controle de tudo, nem sempre conseguiremos contornar uma situação.
     Ainda sou acadêmica, não me julgo com experiência para falar muito sobre isso. Esse foi um dos primeiros de muitos episódios assim que virão. Acho que o que tenho que ter como objetivo, para ficar tranquila comigo mesma, é fazer tudo que está ao meu alcance pelo paciente.
     Lembrei de um poema que escrevi um dia, num intervalo durante o plantão.


Alarmes, apitos.
Ar condicionado.
Muito álcool nas mãos antes de por e depois de tirar as luvas!
Sem brincos, sem colar, sem relógio.
Sapatos fechados.
Pessoas enfermas, 
A maioria com máquinas fazendo com que permaneçam respirando.
Vivas.
Cheiro de doença impregnando minhas narinas.
Evoluo, examino, colho sangue, analiso.
Escrevo no prontuário.
O ciclo se repete.
Pacientes chegam, pacientes vão.
O que fica é o cheiro,
Comum a praticamente todos.
E os alarmes apitando.
                           -Mariana Carpilovsky, 30/06/2013
   

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