sábado, 21 de setembro de 2013

Conto outro conto...

             Mais um dos meus contos... :)



             Fechou o livro e colocou na prateleira. Parou uns instantes para ouvir a chuva, que caía desde o dia anterior. O barulho agudo da chaleira o interrompeu, correu para a cozinha, desligou o fogo. Que chá escolher? Ela gostava de erva-doce. Pegou o chá e, enquanto esperava esfriar um pouco, olhava para o vidro da janela, embaçado, com os caminhos das gotas de chuva desenhados. Quando criança costumava escolher duas gotas e apostar qual escorreria mais rápido.
    Detesto erva-doce, pensou, enquanto bebia. Na verdade não gostava de chá, mas estava frio e ele precisava de algo para esquentá-lo. Ele sabia que, no fundo, nada o esquentaria. Ela adorava chá, ela adorava chuva, adorava tomar chá em dias de chuva. Tinha uma coleção de xícaras e, ao longo do dia, fazia questão de exibir todas elas, lembrou. Seu coração ficou pequeno, sentiu um aperto, um nó na garganta, deixou uma lágrima escorrer. Não tinha importância chorar, ninguém estava lá para ver.
    Engraçado pensar que, um ano atrás, estavam os dois, um nos braços do outro, aconchegados no sofá em frente à lareira acesa, se aquecendo com o fogo e o chá, lembrando de histórias de quando as crianças eram pequenas, rindo. Hoje ele nem se deu ao trabalho de acender a lareira, a lenha estava lá, cortada, pegando umidade. Olhava para as fotografias expostas e para as 3 meias de natal penduradas, uma de cada criança. Ela sempre pendurava essas meias, mesmo depois de os filhos terem saído de casa. 
    A árvore de natal estava montada, com os enfeites de vidro, a estrela no topo, as luzes coloridas. Os presentes, embrulhados cuidadosamente em papel colorido, estavam na base, seus filhos e netos viriam na manhã seguinte. Subiu as escadas, foi a todos os quartos para saber se tinham sido arrumados para as visitas e retornou à cozinha. 
    Jogou fora o chá frio, lavou a xícara. Como é ruim lavar a louça no frio! Começou a arrumar a mesa para a ceia. Toalha vermelha, travessa com peru, as rabanadas, o salpicão, salada, arroz… Um  prato. Não, dois pratos, duas taças de vinho. Sentou-se, fez uma oração, se serviu. O relógio deu meia noite. Se as crianças estivessem aqui hoje ele diria que, agora sim, os presentes poderiam ser abertos.
    Levantou-se, foi até a árvore, ligou as luzes, procurou seu presente, não encontrou, não encontraria. Deu um suspiro e ficou observando as cores das luzes que batiam na parede. Cantou um pouco, bebeu vinho e continuou a olhar a árvore, procurando, ainda, seu presente. Foi até o armário da sala e foi retirando, uma por uma, as xícaras de sua esposa, as colocando debaixo da árvore. E a chuva continuava.

-Mariana Carpilovsky  


Boa tarde!!! :)

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