Sobre retalhos e borboletas:
A colcha era feita de retalhos coloridos, um presente de sua avó. Deitada na cama observava as diferentes estampas e lembrava das roupas às quais pertenciam cada retalho e das situações em que as usou. Podia passar dias e dias fazendo isso, era divertido.
Enrolou-se nas cobertas e imaginou estar dentro de um casulo. Isso era confortável. Fechou os olhos e voltou sua atenção para si mesma, para a respiração, a pulsação e o sangue dentro dela. Sangue venenoso, pensou, se lembrando das manchas roxas em seu braço, no local onde, há algum tempo, juntamente com o sangue, esteve correndo soro e medicação.
Alcançou o espelho, que estava na mesinha perto da cama, junto com o almoço, que ela ainda não tinha comido. Seus cabelos tinham começado a crescer novamente, tufos de cabelos finos, claros e frágeis. Daqui a pouco não precisaria usar mais os lenços, gorros e chapéus. Sorriu com o canto da boca e guardou o espelho.
Espreguiçou-se, sentou e olhou para a comida. Aquilo a deixou enjoada. Queria alguém para conversar, estava sozinha e esquecida naquele quarto a semana toda. Desde que voltaram as aulas a casa ficou vazia. Os irmãos só chegariam pelas 17:30 e ainda era tão cedo. Suspirou. Queria poder ir para a escola.
Pegou o livro que estava lendo e abriu. "A entrevista com o vampiro". Anne Rice era a autora da vez. Um parágrafo, dois, três… Cansou. Antigamente era capaz de passar horas e horas imersa nesse mundo de letras e palavras, mas agora era tão exaustivo. Brincou com as páginas por uns minutos, passando as mãos pelas palavras. Fechou e abraçou o livro.
Puxando as cobertas para si, sentia muito frio, olhava pela janela, e lembrava do jardim lá fora. Era quase primavera, devia estar lindo, cheio de borboletas e botões de flores! Quem sabem me deixam passear mais tarde se eu estiver melhor? Pegou no sono, ainda abraçada com o livro. Enquanto isso, no jardim, numa árvore, bem próxima à janela do quarto, a primeira borboleta saía de seu casulo.-Mariana Carpilovsky
Nesses últimos meses aprendi que devemos celebrar mais a vida, sabem?
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