domingo, 17 de agosto de 2014

Sobre tomar coragem e compartilhar algumas coisas. Sobre ansiedade,sobre depressão.


Com os últimos acontecimentos tenho visto vários depoimentos sobre depressão. Muitos assumindo a doença, compartilhando como venceram ou como convivem com ela. O engraçado é que vêm de pessoas que você nunca esperava, não é? Pois bem, é assim mesmo, digo, a doença, quem tem muitas vezes esconde. Por quê? Talvez por medo de ouvir que é frescura, que é falta do que fazer, que "mas você tem uma vida perfeita"! Infelizmente foi necessário que uma notícia como o suicídio do Robin Williams abrisse os olhos das pessoas para a gravidade da doença, para que muitos passassem a "entender" a doença como doença!

Talvez não seja novidade para alguns, mas eu também tenho depressão. Na verdade transtorno misto de depressão e ansiedade. Ouçam bem, eu disse que tenho depressão, não que a depressão me tem! Por um tempo ela governou, por um tempo fiquei presa nesse casulo. Agora estou bem, há alguns meses já sem nenhuma recaída. Sim, tomo remédios, sim, faço terapia! Sim, sou humana! Sim, estou zelando pela minha saúde.

Aí vai um texto que escrevi no início do ano, pensando em postar aqui, mas me faltou coragem para isso. Na época eu não estava tão bem quando estou agora. Andei conversando sobre depressão com muita gente e descobri que compartilhar ajuda. Eu me sentia anormal por ter "desabado" tão perto do final da faculdade, mas descobri que tenho muitos colegas que também "surtaram" (cada um de sua maneira) durante esses últimos períodos. Não tenho que ter vergonha de mim mesma por isso. 

Às vezes tenho a nítida impressão de que o mundo gira e as coisas seguem seu curso e eu fico parada, para trás. Agindo apenas como espectadora, passivamente, olhando minha vida acontecer. Tudo é tão rápido e desorganizado e eu não tenho tempo de respirar e pensar no que acabou de ocorrer. Não. O mundo não vai parar para mim e quanto mais eu ficar parada, pior. Pior vai ser a corrida atrás do tempo perdido.
Incontáveis foram as minhas desculpas para me esquivar do ato de vivenciar minhas experiências. Por que fujo assim? Por medo, medo de não estar vivendo certo. Afinal, o que mesmo é viver de maneira correta? Existe isso, existe uma fórmula? Não, provavelmente eu que inventei isso também. O medo de errar o viver, tão forte e intenso que me paralisou, fez com que eu me esquivasse até das coisas mais simples do cotidiano, fez com que eu buscasse, no conforto do sono, uma rota de fuga.
Essa esquiva vira culpa, essa culpa potencializa o medo, que me paralisa mais e esse ciclo é interminável. Cada vez mais faço menos coisas, cada vez mais sinto menos vontade de seguir em frente, menor é a vontade de viver. O caminho, que já era longo, ficou maior ainda quando eu parei. Eu queria apertar um botão de congelar a vida.
Era assim que eu me sentia quando, no meio do ano de 2013, nas vésperas do meu aniversário, caí em depressão. Na verdade eu já estava nesse estado melancólico bem antes, provavelmente há alguns anos em processo de negação, não deixando transparecer nada. Foi o pior sentimento que tive em toda a minha curta existência. Agora estou me recuperando, ganhando forças. A doença continua e, às vezes eu ainda afundo, mas sempre volto à superfície. 
Nado devagar, de acordo com as minhas limitações. Aceitar as limitações é um processo novo para mim e um tanto quanto complicado. Assim como comemorar as pequenas vitórias.  Aprendi que, na realidade, toda vitória é uma vitória e nenhuma delas tem nada de pequena! Todas são exemplos diários e argumentos para mim mesma de que eu sou capaz de quebrar barreiras, de avançar e de viver. 
Ainda acredito que há uma maneira certa ou errada, não de se viver,  mas sim quanto às escolhas que se faz e a relação delas com o modo que se lida com as consequências por elas trazidas. No meu caso o medo era tanto que eu não conseguia mais fazer escolhas e as consequências disso foram desastrosas. No entanto, reconheço que, se isso não tivesse acontecido comigo, provavelmente eu ainda estaria a deriva vendo o barquinho da minha vida passar e alcançar o horizonte sem mim. (Janeiro, 2014)




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