A primeira vez que me vi diante de um paciente, no quarto período, estava junto de uns vinte e poucos alunos dentro de um anfiteatro. Ele estava lá na frente, sentado tranquilamente na cadeira enquanto meus colegas o bombardeavam com perguntas e eu, de longe, estava petrificada sentada no fundo da sala. "É uma pessoa de verdade. Estou lidando com uma pessoa!". Sei que parece ridículo esse tipo de pensamento passar pela cabeça de um estudante de medicina, afinal, optamos por lidar diretamente com gente! No entanto eu estava aterrorizada diante dessa situação.
Timidamente fui me acostumando com a situação, demorei muito para colher uma história sozinha e, confesso que só fui fazer isso no quinto período, meio ano depois! Loucura, não? Não é não. Lidar com o paciente não é algo trivial. Cada pessoa é única e nós nunca saberemos o que esperar da pessoa que está na sua frente quando falarmos "Bom dia, em que posso ajudar?" ou qualquer outra pergunta similar. Tudo é incerto! Isso não se ensina em livros, você vai 'pegando o jeito' com a prática. Isso me dava medo, muito.
Demorou cerca de dois períodos para que eu parasse de ficar cheia de placas vermelhas no rosto e no pescoço enquanto colhia uma história e examinava um paciente. E mais um período para que eu conseguisse sentar em uma mesa e atender alguém sozinha. Na verdade eu só fui fazer isso quando uma professora minha, muito querida, virou para mim, com uma mãe e seu bebê de 30 dias ao seu lado, e disse "Atende, que esse é pra você!".
A minha resposta, quase como um pensamento exteriorizado, foi automaticamente essa "O que que eu faço primeiro?". Por incrível que pareça, apesar do branco inicial, sentei com a mãe e comecei a colher a história e, quando vi, já estava examinando com a professora e dando hipóteses diagnósticas que, para minha surpresa, estavam corretas! Terminei a consulta me sentindo mais leve.
E assim foi, assim será sempre. A vida é feita de superações, quebras de barreiras. Eu posso ser mais lenta, demoro para chegar onde quero, mas chego. Tenho que passar a enxergar o fato de que sempre me supero, sempre vou me surpreender com as minhas próprias capacidades. Sempre vou vencer distâncias.
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