quarta-feira, 16 de julho de 2014

Daily drops: Sobre ser futura médica...



"Ei você que está parada aí no meio do caminho, dá para se mover? Estou querendo passar!". Eu me sinto exatamente assim quando estou na sala amarela ou na vermelha da emergência. Tenho a nítida impressão de que o acadêmico está sempre bloqueando o caminho, atrapalhando de alguma maneira, então, timidamente, acabo me juntando à residente ou encostando num cantinho. 

Nesse momento tenho uma visão ampla da sala, dos acontecimentos. Os sons parecem se abafar por uns instantes e retornam, aos poucos, um a um enquanto vou absorvendo a quantidade enorme de informações. Nesse momento reparo nos pacientes, vejo nos olhos o medo e o desespero de alguns, a calma de outros. "Ei doutora!". Doutora, eu? É, doutora, se está de jaleco você é doutora! "Doutora, tem remédio para dor?", "Doutora, quando poderei ir embora?", "Você pode tirar minha pressão? Estou tão nervoso, vou operar!". 

Foi em um momento desses que descobri que alguns atos, simples mesmo, como aferir a pressão de um paciente, contar a frequência cardíaca, fazer uma ausculta, ou apenas falar com o paciente, são importantes. São gestos que transmitem confiança, carinho e suporte ao paciente, que se sente visto por alguém e que não é apenas mais um naquele mar de pessoas passando mal.  Um simples pedido de um paciente para "tirar" a pressão dele em meio à bagunça da emergência me fez ter esse insight. Obrigada, pacientes, vocês são os que mais me ensinam. E é aos poucos, fora dos livros, que vou me tornando cada vez mais médica.

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