Vim aqui falar sobre o sentimento de impotência. Por mais que já tivesse ouvido da boca da minha mãe que esse é um sentimento com o qual muitas vezes vou me deparar, nunca acreditei que fosse sentir isso tão cedo. Na condição de interna, logo na segunda semana do internato em cirurgia, a realidade me deu um tapa na cara e, dias depois, me deu outro tapa.
Ver um paciente fora de possibilidades terapêuticas, sofrendo, foi muito duro. Eu já tive contato com outros pacientes assim no CTI, mas todos sedados, confortáveis. Uma paciente, lúcida, que mal conseguia falar, ofegante, olhou nos meus olhos e disse: "Doutora, eu vou morrer!"
Isso me quebrou. Eu não conseguia pensar em nada além de segurar a mão dela e falar com uma voz suave para ela se acalmar, falar algumas palavras de conforto. Fiquei segurando as mãos dela por uns minutos. O que ela disse era verdade, ela iria morrer, ela sabia disso, a família sabia, eu sabia. Eu não podia fazer mais nada.
Não que eu ache que, na condição de interna, eu tivesse capacidade de intervir. A minha vontade era de pedir para que alguém sedasse ela, desse mais conforto, nem sei se seria a melhor conduta ou não, mas ver o próximo sofrer sem poder fazer nada estava me matando. Felizmente, sim, felizmente, essa paciente agora descansa, mas acho que as últimas palavras dela ficarão gravadas na minha memória para sempre.
Eu tirei uma lição muito positiva apesar de tudo. Eu aprendi que, por mais que eu queira, não posso carregar o mundo nas costas, que ninguém é capaz de resolver tudo. Que o mais importante é ter a consciência de que você fez o que estava ao seu alcance no momento.
A impotência eventualmente esbarra conosco, pode nos derrubar, mas nos levantamos. Agora, eu gostaria muito de saber quando é que eu passarei a me machucar menos durante a queda...
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