quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Sobre ser futura médica

Medicina. Quatro anos se passaram e eu mal senti. Estou numa fase que já não sou novata, mas também não sei muita coisa. As experiências não são muitas, porém são intensas. 

Uma vez, no CTI, uma avózinha me chamou e disse: "Me acode que estou nas últimas! Tô falando sério!". Sinceramente não sei como mantive a calma, às vezes quando paciente diz que vai morrer ele morre mesmo. Pelo menos é o que me dizem meus professores. 

Outra vez, ainda no CTI, um vovôzinho de 95 anos, em plena insuficiência respiratória, em meio as tentativas de respirar, fala: "Mas eu nunca fiz mal à ninguém!". Meu coração ficou pequenininho nessa hora.

A medicina, muitas vezes, não é aquela coisa bonita que se imagina que seja, mas ao mesmo tempo ela é capaz de ser linda. Ver um paciente, a beira da morte, ter seu quadro revertido, não tem preço! E ver um paciente em que investimos muito não conseguir sobreviver pode ser devastador. Não é uma questão de frieza, mas a gente acaba aprendendo a lidar com isso de forma diferenciada, se não, provavelmente, adoeceríamos.

Há o lado engraçado da coisa. Em uma conversa com uma paciente, enquanto colhia sua história, eu perguntei: "A senhora dorme quantas horas por dia?" e ela me respondeu: "Olha, doutora, por dia eu não durmo não, só durmo de noite!". 

E o lado afetivo também existe, principalmente na pediatria. Ganhar um abraço sincero de uma criança que, há minutos atrás estava chorando durante o exame, não tem preço. Já vivenciei alguns desses momentos de ternura. É algo que faz com que você esqueça, mesmo que momentaneamente, tudo de ruim que aconteceu contigo no dia.

Tenho poucas histórias, minha bagagem não passa de uma carteira, talvez uma bolsa de mão, mas é por essas e outras que eu sei que, apesar de toda conjuntura do pais, eu não posso ser outra coisa se não médica. Eu escolhi a medicina e ela me acolheu, embalou e abraçou, me escolheu de volta!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Conto outro conto


Outro conto meu. Em vez de estudar para a prova eu fico escrevendo, vou longe assim....
...
Folhas secas, caídas, estalam a cada passo que dou, o vento ainda não fez o trabalho de varre-las dali. Vou caminhando em silêncio nesse tapete de tons que variam do amarelo para marrom. Olho para baixo, sempre, para não tropeçar. Sigo em frente, agindo como se não tivesse hora nem lugar para estar. Apenas aproveito a caminhada. 
Minha aparência engana, tenho a serenidade estampada no rosto, transmito calmaria apesar de não saber como isso é possível. Por dentro desse molde de porcelana se instaura o caos! Milhares de mini eus falam ao mesmo tempo, algumas vezes um assume um monólogo enquanto os outros, ums de mãos atadas, uns lábios cerrados e mais outros ignorando tudo ou ficando apenas observando a confusão, a gritaria e a agressividade. 
Estou num momento desses, desfrutando a paisagem, inalando ar fresco, escutando o que as folhas secas tem a dizer para mim, aparentemente calma. No entanto, minha cabeça está a mil. Essa caminhada é apenas  um recurso para tentar sair desse redemoinho em que mergulhei. Respiro mais profundamente, fecho os olhos, tentando desviar minha atenção desses pensamentos. 
Chego num córrego, desses bem pequeninos, de água tão transparente que dá até para enxergar o fundo com suas pedrinhas coloridas. Alguns pássaros cantam e voam de galho em galho, derrubando mais algumas folhas no chão. Agachando-me banho as mãos na água gelada, lavo o rosto. Deito no chão, fico a olhar as nuvens.
O conforto que senti,  proporcionado pelo abraço das folhas e pela terra úmida e quente, juntamente com a musicalidade do vento, me embalou. Não sei por quanto tempo dormi. Tempo suficiente para esquecer. Tempo o suficiente para um encontro com a paz interior. Respirei profundamente algumas vezes antes de me levantar e voltar para a cidade.
-Mariana Carpilovsky 


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Isto é água

     Eu tive a minha fase David Foster Wallace e um dos meus textos preferidos dele foi justamente esse, "Isto é água", foi feito como discurso para uma turma de formandos de artes no Kenyon College. Aí vai um trecho:
     "Temos dois homens sentados juntos num bar numa região remota do Alaska. Um deles é religioso, o outro é ateu, e os dois estão discutindo sobre a existência de Deus com a intensidade especial que vem depois da quarta cerveja. E o ateu diz: “Olha, não é como se eu não tivesse razões verdadeiras pra não acreditar em Deus. Não é como se eu nunca tivesse experimentado essa coisa toda de Deus e crenças. Mês passado uma nevasca terrível me pegou longe do acampamento, eu estava completamente perdido, e não conseguia ver nada, e marcava 50 graus negativos, então eu tentei: eu caí de joelhos na neve e gritei ‘Ó Deus, se existir um Deus, eu tô perdido nessa nevasca, e eu vou morrer se você não me ajudar!’” E agora, no bar, o cara religioso olha confuso pro ateu. “Bem, então você deve acreditar agora”, diz ele. “Afinal, aqui está você, vivo.” O ateu rola os olhos. “Não, cara, o que aconteceu é que dois esquimós por acaso apareceram por lá e me mostraram o caminho do acampamento.”
      É fácil fazer uma análise literária dessa história: a mesma exata experiência pode significar duas coisas completamente diferentes para duas pessoas completamente diferentes, considerando os diferentes modelos de crença e as diferentes formas de construir significado de uma  experiência . Porque nós valorizamos tolerância e diversidade de crença, não queremos na nossa análise afirmar que a interpretação de um é verdadeira e a interpretação do outro é falsa ou ruim. E isso é bom, só que nós também acabamos nunca falando sobre de onde vêm esses modelos e crenças diferentes, ou seja, de onde vêm essa crença interna de cada um desses dois homens. 
     É como se a orientação ao mundo mais básica de uma pessoa e o significado de sua experiência fossem de alguma forma simplesmente impressos nos genes, como altura ou tamanho do sapato – ou automaticamente absorvidos da cultura, como linguagem. Como se a forma com que construímos significado não fosse  uma  questão de escolha pessoal e intencional. Além disso, há toda a questão de arrogância. O ateu está completamente certo na sua rejeição da possibilidade de que os esquimós tiveram qualquer coisa a ver com sua oração e pedido de ajuda. Verdade, existem também muitas pessoas religiosas que parecem arrogantes e certas de suas próprias interpretações. Elas provavelmente são muito mais repulsivas do que os ateus, pelo menos para a maioria. Mas o problema do religioso dogmático é exatamente o mesmo do descrente da história: certeza cega,  uma mente fechada que representa um aprisionamento tão completo que o prisioneiro nem sabe que está encarcerado."
     Texto na íntegra. Para quem tem preguiça de ler eis em vídeo, tirado do canal da Tati Feltrin.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Poesia da semana

Retrato 
Cecília Meireles  
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

sábado, 19 de outubro de 2013

CUIDADO: Receita altamente perigosa, vicia!


Eu entediada= cozinhar algo. Quando não acho algo útil geralmente faço brownie.


Brownie da Maricota:
  • 200g de manteiga sem sal
  • 2 xícaras e meia de farinha (sem fermento)
  • 2 xícaras e meia de açúcar refinado
  • 9 colheres de sobremesa de nescau
  • 9 colheres de sobremesa de chocolate em pó ( eu uso Garoto ou Nestle)
  • 1 colher de sobremesa de café (já pronto, não adoçado) --- opcional, mas eu ponho sempre <é o meu segredo, ponha o café!>
  • 4 ovos
  • Nozes a gosto --- opcional
Parte 1: Derreter a manteiga numa panela, adicionar o chocolate e mexer até ficar homogêneo. Adicionar o café.

Parte 2: Peneirar a farinha e o açúcar e reservá-los em um recipiente grande.

Juntar as partes 1 e 2. Adicionar os ovos, misturando um a um até a massa ficar homogênea. Adicionar as nozes.

Se quiser adicionar nozes ou castanhas sugiro que polvilhe farinha de trigo ou maizena para que estas não afundem e se acumulem no fundo da forma enquanto o brownie estiver  assando.

Untar e enfarinhar a forma. Levar a forno médio (+ ou -  200oC) por 30 a 40 minutos ou até a superfície estar seca, eu encosto a ponta do dedo em cima do brownie, se estiver sequinho eu tiro do forno.

Obs: O brownie desgruda da forma mais facilmente quando morno.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Poesia da semana

     Essa poesia eu selecionei do livro do meu tio avô. Eu não o conheci, apenas ouvi algumas histórias sobre ele. O que me resta de herança são essas lembranças e o que ele escreveu.

O QUE FUI NÃO TEM SENTIDO
Edison Moreira  
O que fui não tem sentido; 
do que sou, não sou consciente. 
Ando, senhora, perdido 
na noite insubsistente. 
A luta em que me dissolvo 
é de um estranho desnível. 
Distendo-me como um polvo 
num oceano invisível. 
Mesmo assim algo me corta 
como lâminas geladas. 
A que vivo hoje, comporta 
mais de mil vidas passadas.
      

domingo, 13 de outubro de 2013

Evitando o desperdício

     Todos já tivemos que jogar fora uma maçã só porque ela estava ''farinhenta'' ou machucada. Eu fico mal cada vez que desperdiço frutas assim, por isso desenvolvi o hábito de tentar desperdiçar o mínimo possível das frutas, verduras e legumes.

     Aí vão algumas dicas, que eu julgo preciosas:

  1. Banana madura demais: corte em rodelas e congele, posteriormente você poderá fazer uma boa vitamina com ela.
  2. Uvas: uvas congeladas dão uma boa refrescada no calor do rio de janeiro.
  3. Congele os tomates maduros demais. Descasque e tire as sementes (se quiser) e corte em cubinhos. Assim eles ficarão prontinhos para serem usados para fazer molho.
  4. Talos de brócolis americano e couve-flor: corte bem fininhos, dê um banho de agua fervente e depois refogue no azeite, sal e pimenta. Ficam ótimos.
  5. Maçãs farinhentas: quem nunca ficou P da vida com maçãs farinhentas?! Eis a solução, bolo de aveia, maçã e canela.
Ingredientes:
3 maçãs machucadas, farinhentas, ou, até, as que estão boas, vocês que sabem; 2 xícaras de chá de aveia em flocos grossos; 1 xícara de chá de açúcar mascavo; 1 ovo; 1/2 xícara de chá de óleo; 1 colher de café de fermento em pó; canela a gosto. 
Modo de fazer:
Descasque as maçãs, reserve as cascas. Corte as maçãs em cubinhos, reserve 1/4. Bata no liquidificador os outros 3/4 junto com o açúcar, o óleo, a canela, o ovo e o fermento. Numa vasilha misture a aveia, os cubos de maçã restantes e o que estava no liquidificador. 
Asse em forno médio por aproximadamente 40 minutos. Enquanto o bolo está no forno coloque as cascas das maçãs para ferver, isso dá um bom chá! ;) 

O bolo que fiz hoje

Esse eu fiz há um tempo já.
Bolo + Chá
Sim, fica dessa cor mesmo, depois se torna meio âmbar.
     Bom, é isso, esse bolo também pode ser feito com 3 bananas bem maduras em vez de maçãs (e dá para bater a casca junto, juro que dá certo!).  Boa noite!
 
 
 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Poppies in July

Poppies In July

by Sylvia Plath 
Little poppies, little hell flames,
Do you do no harm?

You flicker. I cannot touch you.
I put my hands among the flames. Nothing burns

And it exhausts me to watch you
Flickering like that, wrinkly and clear red, like the skin of a mouth.

A mouth just bloodied.
Little bloody skirts!

There are fumes I cannot touch.
Where are your opiates, your nauseous capsules?

If I could bleed, or sleep! -
If my mouth could marry a hurt like that!

Or your liquors seep to me, in this glass capsule,
Dulling and stilling.

But colorless. Colorless.

sábado, 5 de outubro de 2013

Mini Origami Books

     Eu queria fazer um projeto rápido hoje, então joguei no google "DIY projects" e me deparei com lindos livrinhos de origami! Estou encantada com os que fiz. Eles estão longe de estar perfeitos, mas são tão bonitinhos. As instruções eu peguei no Paper Kawaii e são muito simples.


     Usei papéis 15x15 como base para o menor e uma folha de papel vegetal para o maior. Dentro do menorzinho escrevi o seguinte poema:

"Eu estava dormindo e me acordaram 
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo 
Um pouco,Já eram horas de dormir de novo!"
-Mário Quintana 
  É uma linda lembrancinha, não? 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Lenda do tsuru


É um origami tão simples, com um significado tão lindo!!



Tsuru no Japão, é essa cegonha de origami (dobradura). Ela tem um significado muito especial, quem a recebe de presente, recebe junto com ela um desejo profundo de "mil felicidades, vida longa e gratidão".
"Certo dia, num tempo muito antigo, um pescador andando pela floresta, encontrou uma cegonha agonizando, quase à morte. Ele recolheu-a, tratou dela e salvou-lhe a vida. Em seguida soltou-a de novo para que fosse livre e seguisse seu caminho.
Depois de um tempo deste acontecimento, apareceu uma linda moça para falar com o pescador e ofereceu-lhe um presente muito belo: um tecido feito com pena de cegonha, tecido muito puro e raro. A própria moça disse tê-lo feito, fio a fio, para entregar ao pescador. Mas, assim que entregou-lhe o presente, a moça disse: 
-Não poderei dar-lhe outro igual. (e não explicou o porquê). 
O pescador ganancioso, vendeu esse tecido por um preço bem alto, e de novo pediu a moça que fizesse outro tecido para ele. Ela, meio assustada e preocupada, não recusou, mas voltou a dizer-lhe amavelmente:
-Esse é o último, realmente não poderei fazer-lhe outro tecido. 
O pescador recebeu o segundo tecido e notou que a moça estava muito abatida. Mas procedeu da mesma forma: o vendeu e pediu mais outro a moça, que resignadamente, o atendeu, já bem abatida, enfatizando que não mais poderia fazer o tecido.  
O pescador ficou desconfiado daquela moça, seu semblante cansado, seu trabalho era feito a noite...então resolveu segui-la. Espiou pela fresta da janela, e viu uma cegonha tirando suas últimas penas para tecer o tecido. Era a cegonha que ele havia salvo a vida um dia, e estava morrendo novamente. Quando o pescador se aproximou,  a cegonha virou rapidamente a moça, mas já, sem forças, ela não conseguiu permanecer na forma humana, olhou docemente e cheia de gratidão para o pescador e caiu no chão, uma cegonha totalmente sem penas, ofertando o tecido feito de seu próprio corpo. Ela oferecera sua vida para agradecer aquele que um dia a salvara. 
Porém, certo de que esse verdadeiro espírito de gratidão nunca poderia morrer, e também como forma de ser perdoado, o pescador passou a fazer a cegonha (tsuru) em origami e ofertar em todo Japão, desejando que as pessoas compreendessem e praticassem essa gratidão em suas vidas e, assim, tivessem vida longa e mil felicidades. E é assim, com esse espírito que esse TSURU chega as mãos dos outros.
Quem receber um, com o mesmo sentimento, pratique o seu significado no seu dia-a-dia e transmitindo-o as outras pessoas!"